segunda-feira, 6 de julho de 2020

Há algo no universo das grávidas que nos faz sentir um impulso de gritar os mistérios do útero e  dos seua infinitos ciclos de vida-morte-vida.
A magia da criação suprema, dentro de nós.
Nesse grito não cabem as palavras, é algo que não se pronuncia. É um comunicar que habita na empatia das pessoas e da sua conexão invisivel. Bastaria simplesmente andar pelo Mundo para que essa partilha se manifestasse.
Mas são tempos bizarros estes que vivemos. Tanto recolhimento...sem tocar...sem respirar. 
Neste quebrar das leis divinas da pertença humana, imerge em mim por vezes uma tristeza que não se consola, que simplesmente se aceita e onde se tenta descodificar a mensagem deste virus maluco com o qual teremos que reaparender a viver em sociedade...seja lá o que isso for, tenha sido ou será!

De pés descalços olhava esta Lua, de prenuncio do Verão, tão cheia como eu, e admirava o seu chamado à expansão.
Senti-me realmente pertença, com este coraçãozinho a bater no meu ventre e esta vontade de dar o tal grito. 

Mas, no meio de tanta benção, sinto-me tão cansada de me isolar...de afastar o outro. Já me bastaram os meses em que tive que estar prostada numa cama a olhar para dentro. 

Sinto tanta falta dos abraços...e respirar, sem máscaras, com as minhas pessoas!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Regresso hoje aqui por te ler minha amiga mais querida. 
Se em vida me inspiravas na tua morte sinto-te mais perto que nunca. Estás em cada plavra onde te leio e sempre ficarás nos nossos sorrisos intímos... rasgados de uma cumplicidade que viaja para além das vidas.
Hoje sei-me introvertida. Quase como um honra. Pareço ter mau feitio, mostro ser dificil empatizar com as pessoas. é dificil sim. Num Mundo onde se encantam com os extrovertidos, onde o barulho faz sentido e o calor vem de fora...pois não admira!
Contigo sabia ser genuína e agora que não estás vejo bem o quanto me ensinas a caminhar com a tua presença ausente. 
Hoje sou eu que tenho 'vida mais que a minha'...um coração que bate tãoooo rápido, dentro de mim, para além do meu. 
Pergunto-me; será que se encontraram no caminho? Sei que este Ser mágico me traz um abraço teu, daqueles que dávamos contra o mundo todo! ali, naquele abraço, o calor vinha de dentro. Um calor assim ficará para o  sempre que não se conhece. 
Já não sinto saudade, nem nas lagrimas habita a tristeza é antes um morno amparo que me convence que não somos nada, em tempo algum. E ainda assim sem esse nada não haveria o todo. 

Fazes falta. 

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Meu amor

Dançarei para ti de útero cheio se te descalçares de todo o mundo.
uma união só nossa, caminhantes, amantes...saberemos ser tudo sagrado e tocaremos o seu infinito conhecimento com as consciências que somos.
Cresceremos juntos. Morreremos para as coisas do mundo, pois sabemos o mais além.
Estaríamos inteiros e dançaríamos sob as luas de mãos dadas...sem colos... 

Quão especial seria esse encontro!

Que doce seria ser-se eternamente criança, mas não são assim os ciclos, as idades. o rodopiar infinito da ilusão do tempo.
Crescer é também abrir os olhos da consciência. 
Seremos sempre tão frágeis. Se eu pudesse tomar-te-ia em meu colo e deixar-te-ia ser eternamente bebé...mas sou ainda tão pequenina e assustada com as perguntas que faço ao mundo.

e se vier tristeza saberei recebê-la...
e se vier ausência saberei aceitá-la ... e assim enterrar, por fim, a menina abandonada...lá, no conforto do passado.

Meu amor, meu ser magnificamente pequeno...vem...descalça-te só para mim . . . 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

o Atelier


Há algo tremendamente sedutor e aveludado nos ateliers de pintura. 
É universal.
São cavernas encantadas, carregados de energia escura, a tal  que ilumina a criatividade. com cheiro a madeira e tintas.
Como foi que cheguei à pintura? Como é que isto aconteceu? 
Falo do processo ... não de um produto.
É neste encontro que aconteço. Que descubro as perguntas...que engravido... morro...volto ao corpo...
As janelas dos ateliers são as sombras que por ali passam. Abre-se a porta e volta-se a acreditar. 
Só aqui consigo quase não pensar.
O meu atelier é o meu consultório: as telas os bisturis, as tintas os remédios, e o médico sou eu. 
Por mais salvadores que procure o meu médico serei sempre eu. 
Aqui a morte torna-se minha cúmplice, abraço-a e fico mais viva que nunca. 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

. . .

"Há um excesso de todas as coisas que já foram ditas...Falta-nos o dicionário dos silêncios que se fundem em cores e céu, em fortalezas de àrvores e cascatas de vento e lua. Falta-nos partir, rumo aonde outrora nos despimos de nós...beber aos lábios do medo a lonjura que nos completa." (autor desconhecido)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013


É oficial: estou em fase de introversão aguda! 
é assim o meu Outono...o meu tempo. Não sei se é bom ou se é mau, se é ascendente ou descendente...provavelmente é tudo isso ou nada. O meu grande nada onde me abro aos meus sentires...a todos...principalmente aqueles que me esqueci de saber sentir.
Quando fico assim aproveito as voltas por dentro para ouvir o som do meu cabelo a crescer...gosto de ter tempo para isso
Habituei-me à minha companhia.
Uma boa companhia não precisa de andar sempre aos saltos e aos pinotes...uma boa companhia é, principalmente, aquela com quem nos sentimos bem em quietude, com quem o silêncio não incomoda, é aquela com quem apenas precisamos de usar um rosto, uma 'persona'...apenas ser.
Tudo acontece no meu grande nada. um espaço intímo onde volto às origens...a minha gruta das coisas simples, onde gosto de cozinhar , pintar e coser meias e mantas. neste canto aprendo a apreciar as minhas carências...a ouvir-me suspirar...a sonhar. Sonhos de fuga...fugaz...sonhos de encontro onde o ego dá uma trégua ao coração, onde vejo a minha sombra, atrás, à frente e dentro de mim. 
Nesta minha caverna podemos conversar sem que o mundo saiba. Segredos só nossos. Pode tudo ficar complicado porque o desespero não se vê daqui. e como vale a pena ver o mundo desde este precipício! é belo e feio tudo ao mesmo tempo...pode ser escuro e tenebroso, mas faz parte do todo. 
Aqui não preciso escolher entre o bem e o mal, entre o certo e o errado...tudo isso é tudo...no meu grande nada.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

E...numa história de amor vejo o que tive e não sou.
vi o apego que se cria quando de expectativa se faz o molde. a desilusão só existe porque, através da expectativa, é criada a ilusão. 
Na verdade é de mim para mim que me iludo...ninguém mais pertence ao percurso. Nem sempre se está confortável: ainda bem!
E...sempre que me senti magoada foi por acreditar ser verdade o expectado e...pedaços de Marta morreram por isso. morreram os pedaços de mentira, os pedaços que não pertencem.
No final tudo fica sempre no sitio certo 
e assim vou aprendendo a rir de mim e do Mundo

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

"Útero

Me nazco en amapolas y caricias
me nombro mujer para quererme
me abro un sendero desafiante y atrevido
me permito mirar desde mi misma
me invito a estar erguida
me deshago de miedos
escucho mis latidos
sigo mi estela de intuiciones
me busco y me pierdo en las mareas
me atrevo a mis pasos
sólo míos
me pierdo
me nublo y amanezco nueva
me gusto y me empecino
me caigo y me desarmo
en partículas de amores
me enraízo
me despeño
me alboroto
me remonto
me huelo
me desdigo
Vuelvo a llamarme a mí misma
desde el útero,
para gestarme mujer en el silencio,
para parirme entera cada día."

© Germana Martin

segunda-feira, 24 de junho de 2013

"A era da estupidez"

Cansei-me de filosofar...de conversas profundas
Estou farta de me meter dentro de caixinhas...de me sentir livre pelo que afinal não eram mais do que prisões  
Só ser  nos agoras é verdade...


Ouvir o som do mundo a girar

domingo, 26 de maio de 2013

"O MÉDICO E O VERDUREIRO (2004)
De uns tempos para cá venho me dedicando a entregar verduras a domicílio. Verduras da horta do sítio para pessoas que fazem parte de uma rede de amigos e novos amigos. Ao fazê-lo, visito um desejo oculto de viver uma identidade secreta. Uma roupa velha, um boné e criou-se o personagem.
A hora de acordar é quatro da manhã, uma hora muito especial. Abasteço o fusquinha de quarenta sacas de verduras colhidas pelo "seu" Geraldo. Em alguns minutos o carro está abarrotado de sacolas (cabe muita coisa num fusca!).
Sento ao volante, olhando o céu do sítio Nirvana. É um momento especial, de oração, junto ao silêncio, às estrelas e a lua. Sinto a fragrância da salsa e do manjericão como uma comunicação das plantas comigo. As verduras são como crianças, que às vezes soltam seus brinquedinhos: joaninhas, pequenas aranhas e formigas costumam passear pelo interior do carro. Uma destas aranhas ficou morando no carro, e como tinha hábitos noturnos, descia pendurada no retrovisor. Um dia a capturei e a devolvi à horta.
E assim, com o carro repleto de amigos verdes, roupa velha e boné, a lua no céu, me atiro pelo asfalto, com uma longa lista de endereços. Após vencer a Grota Funda, pego uma estação de rádio, e a música se faz presente na composição do cenário.
Talvez sejam as próprias verduras, talvez o brilho da lua, talvez o nascer do sol, que pula dentro da retina durante o trajeto das entregas. Algo diferente, que nunca havia vivenciado, foi me contagiando e motivando a continuar este trabalho. Ajudado pela imensa capacidade humana de desenvolver personagens (ou seria adaptabilidade?), desenvolvi o gestual típico e a forma de expressão do entregador de verduras.
Quando passeava às seis da manhã pela Rua Jorge Rudge em Vila Isabel, eu me perguntava, de onde vinha aquela alegria contagiante dos verdureiros, ao montarem suas barracas às cinco da manhã, tendo acordado sabe-se lá que horas?
Compartir esta alegria é um programa obrigatório para quem estiver sentindo-se deprimido. Os momentos que precedem uma feira montada são de uma energia muito especial, que nos remete a uma experiência humana por muitos esquecida. Não há como não deixar-se contagiar por estas pessoas simples e alegres, como as próprias verduras que vendem.
As semanas como entregador foram se sucedendo, e tornaram-se meses, e agora já completo dois anos de entregas. O ato de entregar, de servir, de distribuir, é uma vivência preciosa. Nesso novo universo, no qual desenvolvi meu personagem "entregador", convivo com os porteiros, os lixeiros, os seguranças e todos aqueles que trabalham ao nascer do dia. Nessa nova linha de relacionamento, aprendo e reaprendo a me comunicar. Às vezes acontece de um porteiro que não me conhece não permitir minha entrada. Neste momento, a experiência é ainda mais contundente, quando o entregador deve esperar por uma autorização, ou mesmo resignar-se que não deve entregar.
Alguns amigos me perguntam, porque eu faço isto, e não arrumo alguém para fazer a entrega. E eu pergunto: para que delegar a alguém esta tarefa? Tenho muito mais motivos de fazê-la do que o contrário: neste trabalho acontece também de eu ser muito bem recebido, com bate-papos nos portões, ou nas cozinhas de meus clientes. Me vejo então como a pequena aranha, tecendo teias de fios invisíveis, onde as verduras são na verdade apenas um pretexto.
Nesta experiência, conheço a semelhança com os outros, meus clientes, os porteiros, os entregadores, os verdureiros, os lavradores, os motoristas (entregadores de gente), os garis, os pescadores, os pedreiros. Me percebo parte deste todo, cumprindo a minha parte. Ë uma chance inestimável de conhecer um pouco mais a força da humildade."
www.doutoralberto.com

sexta-feira, 19 de abril de 2013

a NOVA PELE por fim


Esta série de auto-retratos surge de uma individualidade em confronto com o absurdo do desejo. 
Procura pacificar-se, nesse ‘lugar’ que a Pintura é, através da contemplação do corpo físico, que se vai transformando numa interrogação do mundo interior a esse corpo. 
Uma busca de silêncio implícito na aceitação da condição do corpo e do seu lugar no mundo. 
O corpo é o elemento central das histórias que a pele das telas conta. É a afirmação desse ‘estar aí’, desse desejo de sentir. 
Uma pele que cai para dar lugar a uma nova pele que envolve o corpo do não-desejar-nada.

domingo, 7 de outubro de 2012

Vou contar-me um história:

Era uma vez uma sementinha irrequieta.
Na sua inquietude aprendeu a arte da espera. do Tempo. do seu.
Sentia ter esquecidas memórias de si. Volvidas esperas em tensão. Entre a matéria e o absoluto havia tensão, entre o sol e a Terra havia tensão. 
Quente. estava demasiado quente. 
Ainda não era o tempo certo e a sementinha não conseguia germinar. Sim, ela sentia as memórias esquecidas de há tanto tempo. de todo o Tempo. Sentiu-se doente. estava tanto frio.
Queria respirar! Ao seu cantinho de terra não lhe chegava o Sol. Não havia ar.
Estava tão escuro . . . 
E procurava. procurava. incansável a semente procurava-se às escuras. Era uma noite sem fim.
E pensava. pensava muito. Pensava o Sol. pensava o dia a noite e as mil vidas que se imaginava ser.  
Um dia deixou de pensar e sentiu. Foi num dia calmo, sem calor nem frio. O vento era cristalino! e um rebento de verdade germinou...tão doce...

Plooockkk

e deixou de se pensar. Aquele era o tempo certo. Nunca se havia sentido tão viva! 
Sem espelhos, julgou ser uma árvore gigante, tão grande, sem tamanho que coubesse neste mundo. que nela coubesse o Mundo. Num espelho encontrado pelo caminho, descobriu-se flor, e folhas, espinhos suaves e pétalas de Lotús. e muitas cores!  sabia-se sementinha minúscula, um ínfimo pontinho de vida! 
Tanta vida . . .
Uma vez germinada a semente nunca mais parou. sabia o Ciclo e deixou de perguntar. Eram ainda rebentos tenrinhos que dela brotavam. Sempre à procura do Sol, girava, seguia a luz e todo o alimento lhe chegava na hora certa. Leite e mel. doce como uma Lua de canela. Sua casca quentinha era suave e tão macia, para além das questões. 
Um Gira-Sol . . .
De vez em quando o vento sopra um pouco mais forte e o que antes nem tocava a semente, hoje abana o pequeno Gira-Sol. Mas ele já tem as raízes das memórias há tanto perdidas e agora encontradas. 
Hoje, o Gira-sol sabe que antes de flor ele é a semente pura que o anima.
Pelo caminho só tem que observar a paisagem. um dia sabe voltar para casa.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

a Semente encantada

Ainda estou absibilica...meia extasiada com o poder do sublime na Natureza... 
Tenho um Gira-Sol a crescer ao lado da Verduska no meu canteiro!!!  
Já a Verduska também  nunca a plantei  e tem uma história de vida digna de uma guerreira..e agora este pedaço de Sol a sorrir-me todas as manhãs!!!  

Estou dormente e feliz.

Sempre me enfeitiçaram estas plantas luminosas e sinto-me abençoada por esta 'invasão' a um pedaço de terra que cuido..pela responsabilidade do amor que sinto e não por sabe-lo meu. 

Uma pétala de vida que vem mostrar-me o encanto do contacto, desta vida que hoje me habita e me grita ao Sol a Luz que sou..
um pontinho...pequenino... minúsculo... ínfimo. 
Como uma simples flor nos pode fazer lembrar da vida que ainda há por pintar...
a lembrança de que o ciclo nunca pára...e que tudo se renova! 

Que resistente é uma vida! 
Leve quando se é fácil.  
Quando se pretence.

No final o retorno acontece sempre. As coisas simples. um pouco de água, terra e Sol. 
A vida quer viver. 
Já sei as respostas da pertença. 
Já sei que atrás de uma pele que cai, vem sempre uma nova pele..e é tão docemente delicada. Suave.  



Vou-te chamar o meu "Pequeno-Sol"

domingo, 29 de julho de 2012

"a Tela"




quarta-feira, 18 de julho de 2012

suspenso pela espera


Há muita gente muda. 
são estes, os caladinhos da vida, que por dentro falam e dizem tudo. são normalmente esses que deliberam as suas formas de solidão. porque na verdade nunca estão sozinhos. 

Sinto-me tão quente, imersa nesta febre que teima em não me deixar as carnes. e fervo...fervo...por tentar explicar-me no meio desta cura surreal...fervo por fazer surgir de respostas mais perguntas. por procurar os eternos caminhos da Paz.

Sempre a busca do silêncio. dessa saúde. 

Já ouviram o barulho de um corpo a cair? é tão forte não é? tão denso, único. 
e o barulho da queda de um espírito que deixa de sonhar...já ouviram? tão agudo que dói 

Mas... ruidoso mesmo, é o silêncio de uma solidão forçada por um corpo que adoece. é uma vida que precisa de ar, que quer mais vida. 
Tal alma unida a uma corpo que não se deixa viver no planeta dos sentidos, qual 'Borboleta e o Escafandro'... e depois há esta pele doente que quer cair. e esta nova pele que se começa a formar e que deseja tanto encontrar o Deus do Homem. E se não encontrar. pelo menos acreditar que se encontra...o que no fundo acaba por ser a mesma coisa.

o silêncio...o silêncio...é também responsabilidade....o silêncio é uma violência quando de nós esperam uma palavra.


Devagarinho aproxima-se um vulto, não lhe consigo ver os detalhes nem traçar contornos: é a nova pele! está tão protegida.  não está sozinha... vem no regaço da escolha calma, suspenso pela espera

é tão doce

sábado, 7 de julho de 2012

quantas peles cabem num corpo?


Sob a crosta habita uma pele ansiosa por respirar

sexta-feira, 29 de junho de 2012

"PINTORA"


"Consegues pintar o Amor?
A sua genuidade, a sua força?


O seu encanto?

O porquê de tantas lutas e falhas?



O seu carisma o voar com o vento

Trazer sabores e dissabores
Percorrer longas histórias, Séculos, Eras
E oferecer o coração ao teu coração

Enfim, como consegue tal sentimento
Mexer com o mundo
E este manter-se em silêncio
Seguindo a direcção da hipocrisia e ganância

Por isso continua a pintar a tua tela
Mistura as cores do Amor
Coloca a tristeza com a alegria
A saudade com o Presente

E o resultado desse quadro
Será o sorrir e chorar na tua paleta
A poesia pintada com a alma
E o Amor a enviar mensagens de apelo"

Joni Baltar


quinta-feira, 28 de junho de 2012

leitura aos cegos


quinta-feira, 21 de junho de 2012

a Pintura é um sitio estranho

Preciso de Pintar!
P I N T A R
e não me refiro às pinturinhas de bolso que vão acontecendo em dias mais longos que o previsto. 
Falo de rasgar. 
Escancarar a boca e enfiar os punhos pela garganta abaixo. arranhar as entranhas. agarrar todos os fígados e estripar tudo para fora deste corpo amarelo-opaco. em seguida e com as mãos ainda ensanguentadas, arrancar o que me resta de uma penugem que me envergonha chamar de cabelo.
abrir, coser, fechar para voltar a abrir. 
rasgar. 
PI N T A R   afinal...

Haverá ausência mais dolorosa do que a de si?
 nesta ausência a roçar a loucura, só um fio de consciência não me abandona e é dono de não desaparecer por completo. 
 É lá, na falta do reflexo, que a pintura me vai buscar
...num desejo de demência consentida.
 Desejava nunca ter sabido, porque agora não sei para onde fui! não estou cansada, não estou triste. não estou nada. . . Não ouço nada, mas faz tanto barulho!!
Para onde foi o silêncio?

No final, a pintura encontra-me sempre. nos sítios mais estranhos que ela é

o meu retorno é eterno.


sábado, 5 de maio de 2012

a Menina da samarra

Lá está aquela menina pequenina à espera, numa porta, da hora certa. A menina da samarra. 
Queria aquela mão amiga que me deu banho, me vestiu e me deitou. Sentir aquele amparo. Abraçar a menina da samarra e dizer-lhe que nunca mais será deixada antes da hora, naquela porta... queria até aquela mentira do nunca, nunca, nunca mais...ou do para sempre...para sempre... 
O meu corpo está tão cansado. estou tão cansada com ele...não me apetece lutar mais do que o previsto, e fico meia ausente. Esta cura dói! Estou magoada. por ninguém senão por mim, por ainda me deixar acreditar nos embalos dos afectos, breves. Preciso de alivio e não sei onde procurar, a não ser neste dentro que tem estado abandonado juntamente com a menina da samarra.
Tudo é tão efémero...tudo...isto dói. o meu corpo dói-me. 
Desabafos não são literatura, mas aliviam no deslumbre da partilha. 
Não sei se estou errada, mas estou confusa...não consigo sentir-me nestes Sábados intermináveis...se não estivesse de samarra ia gritar para a tal montanha o quanto me dói este corpo a sarar, o quanto me magoam as pessoas intermitentes, que...quero os meus dias por inteiro comigo! até os Sábados...gritar que sei não poder apressar o tempo, mas  suplicar que corra mais rápido!  gritar gritar alto ...  
Só voltar quando souber perdoar...quando deixar de arder...quando aceitar que toda a mudança começa em mim...e...embebedar-me naquele cheiro a Tília. Pegar na menina da samarra. 
amo-te tanto pequenita!  Pergunto-me qual será a tua história...és apenas tu.  Sei que pensas que o mundo por vezes te quer calar e te faz cair...
Pequenina, o Universo é tão justo afinal . . . sabias?



segunda-feira, 19 de março de 2012

um sussurro

Vi o Céu hoje!
Um infinito de espaço e vazios. Estrelas, planetas, constelações, alinhamentos, anos-luz e neblosas.
Mitologias cheias das eternas perguntas do Homem.
Uma imensidão que me emocionou.

E chorei, baixinho, por sentir o peso da importancia que me dou...

quarta-feira, 14 de março de 2012

O LADO SUBTIL


em todo este Mundo onde nos movemos há um lado subtil. Em cada agir, em cada contemplação.
Naquele milésimo de segundo que precede o passo dado, a decisão tomada, a palavra pronunciada, habita uma eternidade subtil. Um ponto, um momento minúsculo, imprecetivel quando não se está em contacto, mas que marca tudo, tudinho.
Mortifica o quase, o talvez e descongela a intenção. Desconstrói o conceito e desarruma a razão.

Em cada palavra existe a subtileza do não-dito. está lá: no sentimento que se encontra sob sua pronuncia. está lá: no timbre da voz, num olhar desviado, no queixo que treme de vulneberalidade.
Há um lado subtil no olhar ausente de um gato, num pássaro que parece não dar por nós. Olha-se para as nuvens, construindo-se mil formas de infância, pára-se o pensar, fecha-se o olhar para fora e sente-se a Terra a girar conosco e corremos com as nuvens, disolvendo-nos na subtileza das formas da memória.


E a memória, essa...quantas subtilezas!!! Quantas verdades construídas por puzles, que tanto encaixámos nos moldes do desejo, que às tantas a história fica lá, eternizada no cantinho da esperança...numa verdade frágil de tão subtil.


Até nos alimentos que se ingerem está a subtileza da mão que os cozinha e que os oferece. Quem nunca provou o sabor do amor numa sopa feita de mãos de mães? Quem nunca sentiu o amargo de uma refeição com sabor a solidão?
e...que maior subtileza haverá que sentir os agoras . . .

quinta-feira, 8 de março de 2012

parar o Mundo



Que tenho o olhar limpo...que tenho os olhos claros: dizes-me. Se sempre me vi bonita: perguntas-me...


Não, meu amigo...tempo houve em que não me encontrava beleza alguma. Tenho-me conquistado. re-encontrado. E porque me sei bonita, e porque me sei pureza, tenho o olhar limpido.


Já dizia a sabedoria popular: os olhos são o espelho da alma...e não é?


Vejo mais do que alguma vez vi. se vejo tudo? Possívelmente não. não sei. isso não é importante. Só o agora importa e é verdade.


Sei, contudo, que existe um mundo subtil a todo este mundo onde nos habituámos a viver na consciência do corpo. e numa primeira atenção, parece ser só assim, como se nos apresenta aos nossos orgãos dos sentidos.


Parando o olhar, introvertida, mas muito consciente e de olhos limpos, vejo numa segunda atenção todo o subtil que se encontra em todas as pequenas coisas. Vejo vida na Lua!


E é tão bonito.


Consigo parar o mundo!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

domingo, 19 de fevereiro de 2012

antes desenganada inquieta que enganada confortável

Terá havido um tempo em que o homem não procurava Deus? Acredito que sim. sinto esse tempo nas memórias sem sofrimentos. de quando não me mascarava de mim para a minha dor. memórias que conheço sem ter exprimentado. indizíveis...impronunciáveis do tempo em que nada se desejava ou procurava do lado de fora, para lá do eu. Preciso acreditar nesse tempo. sem esforço, um dia.

Sou uma desenganada que procura. quanto mais me procuro mais me desengano. deixei de ser uma enganada confortável. abandondo uma pobreza que não me pertence, mas tantas vezes me deu o falso calor das riquezas mundanas.

Acreditando ser generosa, fui pedinte. acreditando ser honesta, fui mentira. acreditando ser feliz, fui desgosto. Gritava-me livre e era condenada. indigente numa noite gelada.

Agora prefiro olhar para o outro lado do óbvio que nos cala por momentos. o adquirido é mais fácil por ser isso, óbvio...e podia ficar só por aí. o corpo acusa, a mente sente, e o intelecto concorda. é uma aparência cheia de ruídos. faz barulho. o que pensava ser simplicidade, nada mais era do que a aparência agradável e sedutora do conforto socialmente aceite. máscaras adocicadas por roupas bonitas, corpos fenomenais que se esquecem saber envelhecer, o falso poder da moeda que nos alimenta. paz fugaz do conforto. Como quando um relâmpago rompe a noite escura, e por segundos tudo se ilumina e se vê de outra forma. e deslumbrádos por essa luz rompante babamos de tanto prazer de julgar que já se viu tudo. mas são instantes e a paz apagasse em segundos igualmente fugazes. Contudo, ficasse confortável com esse prazer do momento que nos enche as carnes.

Haverá maior pobreza do que um espírito encolhido... (?)

simples é ficar nessa luz da riqueza de uma alma que se acusa. já não olho mais para o céu da noite à espera de um relâmpago que me faça dia. faço antes da noite escura surgir um sol infinito que vem de dentro e ilumina todo o caminho: sem intreferências.

porque se acredita.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Por fim o meu mundo de dentro!



Despertei de um sono profundo.

Um acordar tão necessário quanto a urgência de saber-me mais que um corpo. um corpo que está em processo de cura. está mais frágil e cansado agora. nauseado há uns dias, como se andasse à deriva num barco que nunca pára. anda nesta viagem necessária porque precisa de sarar. Embarco com ele mas só para o cuidar, para o abraçar a amar com todas as minhas forças. Respeito-o muito agora e já ouço o que tem para me dizer.


Se me concentro apenas nele fico meia ausente, e com vontade de apressar o tempo. Embarco nessa viagem rumo ao que desconheço e fico dormente. não sei onde estou. se me foco na matéria fico igualmente frágil e cansada, numa náusea sem interrupções.


Mas sou tão mais que um corpo. Sou tão mais que uma ausência. Não sou apenas a matéria que me dá forma, a matéria que adoece e envelhece. Nela apenas me manifesto, comunico e me ajudo a sentir. mas não é nela que existo. Estou para além de qualquer viagem. Encontro-me no que procuro, sempre que me procuro. e quando me encontro é sempre dentro de mim, mas fora do corpo.num infinito lugar. é um dentro sem matéria. sem tempo nem espaço. sem fim.


Por fim o meu mundo de dentro!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Desengano



O que dia em se me revelou que as desilusões não são mais que desenganos, foi um dia amargo. Quis tanto saber que o cordão que me ligava era eterno, quis tanto saber-me abraçada no útero que me gerou. Ali tudo era fácil, morno e feliz. Não havia o medo não faltava nada.

Serei vista como a que vai e vem? e...se vai perdendo pelos caminhos...a eterna desassossegada. Mas desengane-se menina: não se pode existir para ser-se vista...desengane-se menina: não se pode moldar o mundo...só a sua alma pode moldar menina...

Falo assim para mim...desencantada: como ser uma menina da mamã que nunca foi menina?

Nestes desencantos descubro-me na urgência de crescer. não se pode apressar o tempo. preciso-me paciente na espera do meu 'fabuloso destino'. mas desengano-me: não sou eu que o espero, é ele que me espera!

Engulo uma coisa meio seca meio molhada há semanas. não desce, nem sobe. fica-me ali na garganta à espera de um grito que a liberte. Mas o medo é tanto que por mais que abra a boca não sai um som. O que vou murmurando por aí é apenas conveniente. Até lá vou engulindo sem deglutir. e espero...espero...


Um dia destes...um dia destes... caminharei sem esperar nada.

sábado, 21 de janeiro de 2012



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

'Assuntos de Cama e outras Desordens'

Queria poder fazer um voto de silêncio. Estou farta das palavras, das minhas e das dos outros. Não vou mais falar do tempo, nem desejar bom ano, nem bom Natal, e Carnaval só se for o que é a minha vida. Calem-se todos! Por favor não desgastem as palavras, que juntas podem fazer amar e mais juntas ainda podem fazer odiar. São poderosas e inversamente proporcionais às conclusões. São enfadonhas se acreditar que tudo o que sei é tudo o que preciso, mas vejo afinal que o que sei é nada...são palavras. Sei apenas que preciso de silêncio.
A palavra morre assim que é pronunciada. Não vale para as taxas moderadoras nem para os gastos de saliva nem dura para os portes de envio.

Sem palavras aprendi a suportar ausências, a aceitar as partidas. aprendi a ver nas despedidas novos retornos, a abraçar os meus medos, a andar de mãos dadas com os meus fantasmas... e... de nada me servem as palavras. O precioso silêncio...ahhhhh...o precioso silêncio. só nele me encontro. Em tempo de crise há-que falar só o necessário. e o necessário é sentir...o que se diz...e só dizer o que se sente. Mas para quê tanto falar se ninguém se ouve? afinal fala-se para quem? para o ouvinte ou para o orador? são diálogos feitos monólogos. Já não ouço nada...fartei-me! Já não digo nada. As palavras nada mudam. nem o tempo muda nada. apenas me coloca mais distante do agora, do ontem, do passado. coloca-me num infinito horizonte que por vezes me surge, para logo desaparecer. equilibra para em seguida desequilibrar. mas não muda nada. nem os assuntos nem os pensares nem os sentires nem as desordens nem as ordens. A memória do que se sentiu, ficou naquele tempo, mas regressa sempre com a mesma intensidade. Nada muda. Usam-se as palavras desejando marcar diferenças, anunciar ideologias, tentando convencer o medo a desaparecer, tentando explicar o inexplicável. a compreender. Mas e...há afinal mais entendimento pela palavra? não me parece. a mim não me resolve. Tudo cá dentro está caótico...e aqui as palavras não chegam. nem as quero! quero aceitar as injecções de consequência que me irei dar pelas mãos das decisões tomadas. quero aceitar o medo a sentir, o meu corpo em conflito. A paz que tive...está lá, onde tempo a deixou...e nada mudou. regressa sempre da mesma forma, noutro tempo, noutro outro, mas é sempre a mesma. Tudo regressa sempre ao corpo onde se construiu. mas são sentires...não são palavras.
Hoje em leituras de 'assuntos de cama e outras desordens' vi a intimidade que é minha. ficou lá. presa numa memória que o tempo tenta, sem sucesso, apagar e que as palavras me tentam convencer ser passado. mas tendo sido construida em mim É urgentemente minha. e fala-se fala-se .... fala-se demasiado! Para quê? quando podia simplesmente fechar os olhos e ver as cores das pessoas que se amontoavam pela rua. cheirar o alcatrão quente rançoso desta cidade. sem palavras...fechar os olhos e só sentir.

Está decidido! vou fazer um voto de silêncio.

sábado, 31 de dezembro de 2011

tudo está em branco





última noite do ano. Limpa, calma.
silêncio...


Olho um rectângulo de céu feito por cubos de cimento. Estou bem aqui. Este é o momento certo, no tempo exacto onde devia estar. Neste aqui não me desejo em lado algum que não este. tudo está no sítio certo. Até eu! parece mentira...
o cheiro das tintas...as mão frias. a matéria está em mudança.



Escrevo embalada sem pensar muito. hoje não é dia de pensar. hoje é dia de deixar-me só sentir.



Estar.



Falo assim, caladinha, com todos os que por mim passaram. Abraço todos os que me fizeram história. Vejo-me criança a penetrar um mundo cheio de tudo: um ribeiro gelado de águas limpas, cobertas de libelinhas, onde me banho com meu primo e um cão: o Farrusco. Vejo o feno reunido com tanto esforço por meus avós ao qual deitámos fogo. Vejos os gatinhos e coelhos que queria ensinar a nadar. Os pintainhos, os pombos e as mil andorinhas que teimavam em cair na varanda e que tentava, infrutuitamente, salvar. Criança, não via não poder ensinar o mundo, nem salvar. Um dia pensei: quem sabe me poderei ensinar a mim...e..talvez salvar! quem sabe o mundo me ajude...



assim começou tudo. as perguntas. as escolhas. a insatisfação. curiosa...sempre muito curiosa. quis ter olhos, verdadeiros. quis sentir os cheiros. ver o poder das palavras. sentir-me pertença.



Perdi-me tantas vezes. Perdi-me, porque me procurava.


Não importa o que grito se não me ouço. de nada vale querer ser para ser vista. a importancia que me dou não dura. tudo é relativo ao meu observatório. tenho assim que me misturar com a matéria que muda, dissolver-me nos caminhos em que me perco. encontrar-me nos trilhos mais fabulescos. encher-me de surpresa. e nunca, mas nunca, deixar de viver pelo medo do que possa acontecer. importante mesmo é o movimento. sem ritmos impostos, sem compasso de espera.



Fui agora ao quintal cortar um folha da Verduska. (Tudo está tão calmo! o que fora ebulição é agora silêncio.) Vou e fossilizá-la. vou tentar lembrar-me de lhe dizer bom dia, bom noite, bom ano, boa vida. e vou deixar de tentar, porque essa planta morreu para renascer, é uma resistente e por isso merece todo o meu respeito, admiração e carinho. Não é preciso muito para me colocar no lugar dela. Bastou um pouco de terra e um pouco de Sol para que se agarrasse à vida que um dia quase a perdeu.



Pinto-a de branco: pureza, possibilidade. e por um instante deixo de questionar. está tudo branco



Regresso ao quintal (Tudo está tão ruidoso agora! o que fora silêncio é agora ebulição.) e...derrepente...assim num segundo mudou o ano. Como tudo muda num instante! fiquei ali deitada a ouvir todo aquele movimento de mudança. vi pássaros assustados num céu de mil cores. as pessoas gritavam e batiam nas panelas. e..sorri. lembrei-me de todos os que amo e pensei no que desejariam? quais seriam os seus sonhos? e desejei-lhes os seus desejos. e para mim desejei....desejei não desejar nada...nada que não esteja, nada que não seja.



desejei desejar-me sempre no momento.






sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

SOVAS EMOCIONAIS

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

vestido sem corpo


"Chiharu Shiota"

Por norma não sou sensível ao que se passa do outro lado do Mundo. está muito longe! Já muito tenho para sentir ou não sentir no que me está mais próximo fisicamente. Mas a arte tem destas coisas. do Japão vem esta imagem que não sendo minha sou eu também.
Um vestido sem corpo. ali. suspenso. frente à janela que anuncia a vida que por ali passa. e os fios, esses, não mais são que as memórias. são as sinapses que aconteceram pelo caminho. umas entrelaçadas. outras quebradas pelo que foi e já não é. pelas verdades que já não são. São o breve acreditar para logo deixar de ver. São os fios que denunciam o frágil que são todos os caminhos. e o curtas que podem ser as verdades.
Um vestido que aguarda um corpo. o seu. e como eu espero o meu!não este que passeio pelas ruas. esse é o que sempre tive, com todas as suas mudanças, cicatrizes, marcas, e alguns vincos também. mas é e sempre será o mesmo corpo que vai envelhecendo. o corpo que aguardo não é o que se vê. é aquele que sei ter, mas ainda o sinto enterrado também ele à espera de ver a luz. e receber por fim: paz.
sou ainda um vestido por vestir. porque de todas as vezes que me senti tão vestida por verdades em que quis acreditar, era quando mais nua estava.
Tenho ainda tanta pele por sarar.

sábado, 10 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

o mais íntimo dos encontros





Se soubesse onde estou em todos os momentos. se me soubesse pertencer a cada momento onde aconteço, saberia tudo o que quero dizer e sentiria o silêncio que me urge.
Os meus pensamentos tropeçam tanto que quase não os agarro. São como ingredientes de um bolo caseiro daqueles que não conseguimos definir a que sabe. onde o olfacto não chega nem a visão alcança.



Como se faz chegar o coração ao que os sentidos desconhecem?



Preciso de me render. deixar-me só sentir. sentar-me no cume de uma montanha e respirar. longe. muito longe...onde toca o infinito. tão longe quanto a distância que me separa de mim. Ficar ali até me perdoar. só descer quando já não houver distância, nem tempo, nem ar que me separe do que me procuro. regressar só quando me quiser sempre onde estou, quando vir que tudo o que tenho é tudo o que preciso. e que tudo o que tenho, sou eu...que é afinal tudo do que preciso. E assim sentir-me digna de quem me recebe e aceita.de quem se me dá. sentir-me digna de mim.




Sinto um cansaço delicioso de busca. é o cansaço do quase encontro. mas estou exausta de precisar. Esta é uma dor nova. uma dor de vida. de cura. recebo-me num abraço que já sei dar. vejo-me no interior das minhas cicratrizes privadas que me envolvem com carinho porque me sabem a sarar. Preciso do mais íntimo dos encontros...e...por enquanto preciso de precisar.